Este texto é publicado por Francisco Queirós* no Diario As Beiras, em 17 de Janeiro
Em Santa Comba Dão prepara-se um crime. A Câmara Municipal, de parceria com Rui Salazar de Lucena e Mello, pretende criar até final do ano o Centro de Estudos do Estado Novo (leia-se em bom português: do Fascismo) e o Museu Salazar.
A Câmara, o erário público pois, obriga-se à remuneração de 2 mil euros/mês ao doador, herdeiro do ditador, por lugar na sociedade a constituir. Cândidas e celestiais intenções do presidente da autarquia, que à comunicação social afirmou: “reavivar a memória do filho do feitor do Vimieiro (Salazar) poderá servir como “alavanca” para o desenvolvimento turístico”. Sem dúvida que será nosso dever reavivar a memória de Salazar e do Fascismo, explicando às novas gerações o que significaram os longos anos da ditadura fascista.
O projecto do Museu Salazar e a edificação de uma nova estátua ao ditador, já também anunciada, inserem-se no âmbito de uma descarada operação para reescrever a história, branqueando os anos negros da ditadura e os crimes do fascismo, abrindo igualmente caminho para no futuro de novo se legitimar o cerceamento de liberdades e direitos fundamentais.
Em Santa Comba Dão prepara-se um crime. A criação de um “santuário” de Salazar, a construção de um lugar de evocação e de culto, de romaria dos saudosistas do fascismo sob a capa de museu ou de centro de estudos, com mal-disfarçada roupagem científica é além do mais ilegal. A Constituição da República no artigo 46.ºé peremptória: “Não são consentidas (...) organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista.” A Lei 64/78 proíbe claramente as organizações fascistas e a difusão dos seus valores e “a exaltação das personalidades mais representativas daqueles regimes” (número 1 do artigo 3.º).
Mas o crime que se prepara em Santa Comba é maior e mais grave. A exaltação do fascismo e o culto de Salazar são uma afronta e um ultraje aos milhares de presos políticos que sofreram ou morreram no Campo de Concentração do Tarrafal, em Caxias, em Peniche e nas outras prisões do regime. Uma afronta aos homens e mulheres torturados, aos assassinados pela PIDE de Salazar, como Humberto Delgado, Catarina Eufémia, José Dias Coelho e muitos outros. Uma afronta aos milhões de portugueses de várias gerações condenados à miséria, à fome, à emigração clandestina, ao analfabetismo, à guerra, privados de condições básicas de saúde, de educação, de habitação. Uma indignidade para com os milhões de portugueses condenados a décadas de uma vida regulada pelo medo, para com os milhões de homens e mulheres agrilhoados num Portugal que Salazar e o fascismo condenaram ao subdesenvolvimento. Uma afronta a milhões de homens e mulheres de todo o país, e também de Santa Comba, vítimas do fascismo português e do seu principal líder.
O único e possível Museu de Salazar é um museu com imagens de dor e de miséria, com gritos de sofrimento, um museu de vítimas da opressão e de heróis da resistência. Só assim seria “cientificamente neutro”, como falaciosamente afirmam querer os seus promotores. O museu que os saudosos do fascismo pretendem inaugurar é uma casa da mentira, de embuste, um santuário da vergonha.
António de Oliveira Salazar, o Tonito do feitor do Vimieiro, não honra a sua terra e as suas honestas gentes. Os santacombadenses e os portugueses sentem-se honrados com o trabalho, o esforço e o legado de pessoas-de-bem, não com a má memória de tempos de banditismo.
*Professor e Coordenador da Comissão Concelhia de Coimbra do PCP
Nota: Não sendo este texto de um dos co-autores deste blog encontra-se desactivada a opção Comentários
Documentação Autárquica |
Escrituras |
Escritura Doação Espólio |
Escritura Doação Terrenos |
Escritura Compra e Venda Prédios Rústicos e Urbanos |
Reuniões de Câmara |
27 de Fevereiro de 2007 (Extacto da Acta) |
13 de Março de 2007 (Extracto da Acta) |
. Estão recolhidas 16.000 a...
. Fascismo e neofascismo na...
. Inspecção Geral da Admini...
. Não ao Museu
. Links Antifascistas