Quarta-feira, 17 de Janeiro de 2007

O QUE ESTÁ A DAR – O MUSEU SALAZAR E NÃO SÓ

Os quarenta e oito anos de ditadura fascista constituem um dos períodos mais sombrios da história de Portugal.

Fascismo
A ditadura fascista criou um Estado totalitário e um monstruoso aparelho policial de espionagem e repressão políticas. Que actuava em todos os sectores da vida nacional, privando o povo português dos mais elementares direitos e liberdades.

A história da ditadura é uma história de perseguições, de prisões, de torturas, de condenações, de assassinatos daqueles que ousavam defender os direitos do povo, protestar, lutar pela liberdade e por melhores condições de vida e de trabalho.

Utilizando a força coerciva do Estado, a ditadura fascista impulsionou a centralização e a concentração de capitais, a formação de grupos monopolistas. Que se tornaram donos e dirigentes de todos os sectores fundamentais da economia nacional. Acumulando grandes fortunas assentes na sobre exploração, nas privações, na miséria e na opressão do povo português e dos povos das colónias portuguesas.

A ditadura fascista impôs aos trabalhadores formas brutais de exploração. Sacrificou gerações de jovens em treze anos de guerras coloniais. Forçou centenas de milhar de portugueses à emigração. Agravou as discriminações das mulheres e dos jovens, a subalimentação de grande parte da população, o obscurantismo, o analfabetismo, a degradação moral da sociedade.

A ditadura fascista realizou uma política externa de conluio com os regimes mais reaccionários. Que se traduziu no apoio directo à sublevação fascista em Espanha, na cooperação com a Alemanha nazi e a Itália fascista. Que se manifestou nas concessões militares que levaram ao estabelecimento de bases estrangeiras no território português. Que se revelou na subserviência ante as grandes potências imperialistas e no alinhamento com a política de guerra dos seus círculos mais agressivos e reaccionários.

Conforme definiu o Programa do PCP aprovado no VI Congresso realizado clandestinamente em 1965, o regime fascista foi uma ditadura terrorista dos monopólios (associados ao imperialismo) e dos latifundiários – ditadura frontalmente contrária aos interesses do povo português e de Portugal.

Museu Salazar
É tudo isto, e muito mais, que certos sectores da sociedade portuguesa procuram esconder e escamotear. Assiste-se a uma permanente e bem elaborada campanha, com vastos meios e sob diversas formas, de branqueamento do regime de Salazar e Caetano. “O que está a dar” é reescrever a história de Portugal no século XX.

Uma expressão de grande gravidade deste objectivo é a anunciada tentativa de pôr a funcionar em Santa Comba Dão, o chamado «Museu Salazar». Entretanto rebaptizado «Museu do Estado Novo». Que conta com o patrocínio da respectiva Câmara Municipal de maioria PSD. A qual, sublinhe-se, desde logo disponibilizou apoio político e meios logístico e financeiros. Bem como de familiares do ditador (nada alheios aos negócios envolventes…) e de outros interesses saudosos ou afectos ao regime fascista.

É uma completa mistificação apresentar este projectado “Museu” como algo que seria “devido” pelos seus concidadãos ou pelo município de origem ao ditador. Salazar foi tão responsável pela opressão, miséria e atraso de Santa Comba Dão como o foi do resto do País.

E só por manipulação se pode apresentar esta iniciativa como académica. Queiram ou não os seus promotores, defensores e apoiantes, este projecto, objectivamente, visa o revivalismo, o excursionismo e a propaganda do fascismo. Seria como se na Alemanha surgisse um Museu de Hitler ou na Itália o Museu Mussolini.

Acresce que, em si mesmo, constituiria um atentado aos ideais democráticos do povo português e dos democratas. E um claríssimo conflito com a Constituição e a Lei.

O nosso país carece sim de verdadeiros Museus da Resistência e do Fascismo. Lugares indispensáveis para estudar, em todas as suas vertentes, a realidade daquele período da história de Portugal. E para mostrar, sobretudo às gerações mais jovens, o porquê de “fascismo nunca mais”.

Divergências ideológicas
Noutra área do espectro político “o que está a dar” é sair do PCP por divergências ideológicas.

Pelos vistos alguns ex-comunistas pensam que ganham credenciais por esse facto. Vá-se lá saber porquê. Por ocasião da morte de Álvaro Cunhal, p. ex., assisti estupefacto a um a afirmar perante as câmaras da televisão que tinha abandonado o PCP em 1969 por divergências sobre a situação na Checoslováquia. Só que a realidade foi outra. Expulso em 1964, cinco anos antes, por questões que nada tiveram a ver com a ideologia. Imaginação fértil, ou algo mais?

Lamentavelmente Eduardo Prado Coelho (EPC) afina pelo mesmo diapasão.

Uma arreliadora gralha, estou certo disso, transformou Novembro de 1975, data da sua efectiva saída do PCP, em Novembro de 1974. Mas não foi um erro de escrita que o levou a confessar que “deslizei para a área socialista”. Mais uma vez “deslizamos” para o terreno do imaginário. A verdade está na edição do jornal “Avante!” de 16 de Novembro deste ano, ou em http://www.avante.pt/noticia.asp?id=16913&area=25.

Quanto à dialéctica materialista, entendida como teoria marxista do conhecimento, andávamos todos enganados. Mas EPC reconduziu-nos ao bom caminho. É tudo uma questão de intuição. Uns têm e outros não. Álvaro Cunhal pelos vistos tinha. E EPC? Já agora. Essa intuição é de origem divina ou genética?

EPC quando teoriza sobre questões da cultura fá-lo com qualidade e com profundidade. O mesmo não se pode dizer quando se debruça sobre o movimento comunista e revolucionário (“O baile dos espectros”).

Quase tudo nesse artigo assenta em falácias causadas pelo atrevimento que provém da ignorância. “ (…) esta reunião (Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários) é uma tentativa patética de sobrevivência, em que um certo número de partidos que já ninguém conhece, que nada pesam na vida política dos seus países, com ignotos mas certamente denodados dirigentes, resolvem brincar às casinhas e fingir que são gente grande. Não são, claro. Ninguém os toma a sério.” Por acaso nem precisamos de sair da Europa. Basta-nos ir a um país da União Europeia chamado Chipre (conhece?) onde os ditos “marxistas-leninistas” ganharam, pela segunda vez consecutiva, as eleições legislativas.

Pudemos também ir à África do Sul, onde o sucessor designado de Nelson Mandela, Chris Hani, era o secretário-geral do Partido Comunista. Por isso mesmo foi assassinado em 1993. E onde os comunistas têm um importante papel em todos os níveis do aparelho de estado.

Continuemos por África, Ásia, América do Norte, do Centro e do Sul, Oceânia. E que tal fazer os trabalhos de casa? Aliás a afirmação nem sequer é nova. Vem sendo repetida há dezenas de anos. Foi assim, por exemplo, quando apareceram os denominados “euro comunistas”. Ou quando caiu o muro de Berlim. Fraco argumento ideológico.

Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação


António Vilarigues
anm_vilarigues@hotmail.com
Sistemas de Comunicação e Informação

Publicado na edição do jornal PÚBLICO de 5 de Dezembro de 2006

publicado por António Vilarigues às 23:34
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