Sexta-feira, 7 de Novembro de 2008

Portugal em Directo

sinto-me:
publicado por Mário Lobo às 15:18
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Domingo, 4 de Novembro de 2007

Estão recolhidas 16.000 assinaturas contra o ”Museu Salazar”

      
Segunda-feira, Dia 5 de Novembro a Petição será entregue na Assembleia da República
 
URAP – União de Resistentes Antifascistas Portugueses
   
   
 Comunicado
 
1. O Núcleo de Viseu – Santa Comba Dão da URAP torna público que até hoje, 30 de Outubro de 2007, estão entregues nos serviços centrais da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses 16.000 assinaturas contra a concretização do chamado “Museu Salazar”, em Santa Comba Dão, que eufemisticamente foi rebaptizado de “Centro Documental Museu e Parque Temático do Estado Novo”.
 
2. O Núcleo de Viseu – Santa Comba Dão da URAP informa que uma delegação integrada pelos 5 primeiros subscritores e de que faz parte Aurélio Santos, Coordenador do Conselho Directivo da URAP, irá entregar na próxima segunda-feira, dia 5 de Novembro, ao Senhor Presidente da Assembleia da República, Doutor Jaime Gama, esta Petição.
 
3. A audiência terá lugar pelas 16h00m. No final será feita pela Comissão Directiva da URAP uma comunicação pública. Convidamos a Comunicação Social a estar presente.
 
4. O Núcleo de Viseu – Santa Comba Dão da URAP leva ao conhecimento da opinião pública que, entre as 16.000 assinaturas já recolhidas, contam-se muitos cidadãos justamente reconhecidos pela sua intervenção social e política. De entre eles relembram-se os 50 nomes (lista anexa) tornados públicos a 24.04.2007.
 
5. Durante este fim-de-semana esta lista será actualizada e serão revelados mais nomes.
 
Viseu, 30 de Outubro de 2007
 
 
O Núcleo de Viseu – Santa Comba Dão da URAP

Lista de 50 subscritores da Petição contra a concretização do “Museu Salazar”
 
(anexa ao Comunicado da URAP de 24.04.07)
    
Os primeiros subscritores da petição contra a concretização do “Museu Salazar” são:
• Alberto Andrade – Santa Comba Dão
• António Vilarigues – Penalva do Castelo
• João Carlos Gralheiro – S. Pedro do Sul
• Mário Lobo – Mortágua
• Aurélio Santos, coordenador do Conselho Directivo da URAP.
 
E ainda na primeira folha, entre muitos lutadores antifascistas daquela região, está também a assinatura de
• Lousã Henriques, médico, de Coimbra
• Jaime Gralheiro, advogado, de Viseu.
 
Outros subscritores:
• Ana Teresa Vicente – Presidente da Câmara Municipal de Palmela
• António Borga – jornalista
• António Serzedelo – editor de rádio
• Aristides Valente – Presidente da Junta de Freguesia de Almeida
• Augusto Pólvora – Presidente da Câmara Municipal de Sesimbra
• Carlos Mendes – cantor
• Dias Lourenço – resistente antifascista
• Dulce Pontes – cantora
• Eduarda Dionísio – escritora;
• Fausto Neves – músico
• Fernanda Lapa – actriz
• Filipe Rosas
• Francisco Alen Gomes – médico
• Francisco Santos – Presidente da Câmara Municipal de Beja
• Frederico de Carvalho – investigador
• Gabriela Tsukamoto – Presidente da Câmara Municipal de Nisa
• Georgete Ferreira – resistente antifascista
• Isabel do Carmo – médica
• Jerónimo de Sousa – Secretário-Geral do PCP
• João Arsénio Nunes – professor universitário
• João Botelho – realizador
• Jorge Silva Melo – editor
• José Duarte – músico
• José Ernesto Cartaxo – Membro da Comissão Executiva da CGTP-IN.
• José Godinho – Presidente da Câmara Municipal de Aljustrel
• José Manuel Mendes – escritor
• Manuel Carvalho da Silva – Secretário-Geral da CGTP-IN
• Manuel Coelho – Presidente da Câmara Municipal de Sines
• Manuel Gusmão – professor universitário
• Manuel Villaverde Cabral – professor universitário
• Manuela Cruzeiro – professora universitária
• Margarida Tengarrinha – resistente antifascista
• Maria Barroso
• Maria das Dores Meira – Presidente da Câmara Municipal de Setúbal
• Mário Jacques – encenador
• Mário Nogueira – Secretário-Geral da FENPROF
• Mário Tomé – militar de Abril
• Mesquita Machado – Presidente da Câmara Municipal de Braga
• Pinto Sá – Presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo
• Sofia Ferreira – resistente antifascista
• Urbano Tavares Rodrigues – escritor
• Vasco Lourenço – militar de Abril

Vítor Alves – militar de Abril

   

publicado por António Vilarigues às 12:48
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Quarta-feira, 11 de Julho de 2007

Inspecção Geral da Administração do Território (IGAT) responde à URAP a propósito do “museu” Salazar

1.      O núcleo de Viseu-Santa Comba Dão da URAP torna público que recebeu uma resposta à participação contra a Câmara Municipal de Santa Comba Dão entregue no passado dia 7 de Maio de 2007 na Inspecção Geral da Administração do Território (IGAT).

 

2.      Nela a IGAT informa que foram solicitados esclarecimentos à Câmara Municipal de Santa Comba Dão. Tal facto vem dar ainda mais razão à participação da URAP. Bem como às preocupações e dúvidas de parte cada vez mais significativa da população do concelho.

 

3.      Os elementos apresentados na análise exaustiva de todo o processo relativa às decisões da Câmara sobre o inicialmente denominado "Museu Salazar", depois "Museu do Estado Novo", e, mais recentemente, eufemisticamente rebaptizado "Centro Documental Museu e Parque Temático do Estado Novo" foram considerados suficientemente válidos para justificar o andamento da participação.

 

4.      Recorda-se que a participação da URAP ao IGAT considerava existirem indícios bastantes de que o Presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão pretende avançar com um projecto que não tem suporte nas deliberações efectivamente tomadas no exercício dos órgãos autárquicos (ou até as contraria).

 

5.      Por outro lado, há dados que apontam para que o projecto do Museu Salazar constitui uma operação financeira altamente desvantajosa para o município e por conseguinte, para os contribuintes portugueses. Nomeadamente a pensão vitalícia de 2000 Euros mês, actualizáveis todos os anos, paga ao sobrinho neto de Salazar, em troca da «doação» duns «tarecos» que pertenceram ao ditador fascista e pouco mais, e sem qualquer aprovação dos Órgãos do Poder Municipal nesse sentido.

 

6.      No nosso entender confirma-se assim que o projecto do “Museu Salazar” está, cada vez mais, confrontado com a constatação da respectiva ilegalidade. Mas sobretudo com a resistência da opinião pública democrática a esse objectivo, inaceitável, de edificar um “santuário” do regime fascista, deposto em 25 de Abril de 1974.

 

7.      Reafirmamos que é tempo de a Câmara Municipal arrepiar caminho. Santa Comba Dão merece melhor. É possível e desejável outro caminho para o desenvolvimento desta terra.

 

Santa Comba Dão, 10 de Julho de 2007

O Núcleo de Viseu-Santa Comba Dão da

União de Resistentes Antifascistas Portugueses URAP

 

publicado por António Vilarigues às 14:15
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Sexta-feira, 15 de Junho de 2007

O anticomunismo e o branqueamento do fascismo - Aspectos de uma ofensiva reaccionária

Como se esperava o concurso televisivo sobre «o melhor português» acabou atribuindo a vitória ao ditador Salazar. No universo da televisão manipulada e manipuladora é assim que as coisas acontecem. Dias antes, um grupo de provocadores fascistas conseguira mistificar algumas dezenas de populares, mas não conseguira impedir a realização, em Santa Comba Dão, de uma sessão promovida pelo núcleo de Viseu da URAP contra as intenções de criação, naquela vila de um museu dedicado à memória do ditador; dias depois, num outro recanto do mundo real, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, os estudantes davam uma expressiva vitória a uma lista unitária que incluía jovens comunistas (818 votos) contra uma lista que integrava elementos assumidamente de extrema-direita (81 votos). O resultado chegava depois de uma força da PSP ter impedido que um grupo de jovens democratas acabasse um mural que substituía símbolos nazi-fascistas por motivos emblemáticos do 25 de Abril.

 

Colhidos na espuma dos dias, e sem que possamos atribuir-lhes o valor de sintomas de uma corrente de fundo que marque o nosso tempo, são contudo sinais de um perigo que não estará na ordem do dia, mas que em estado larvar espreita as condições para se desenvolver. Convém não alimentar nem deixar crescer estes sinais e para isso há que compreendê-los e combatê-los desde cedo. Antes mesmo que a serpente saia da casca e se manifeste enquanto bicho plenamente formado, há pois que, ainda no ovo, secar-lhe as condições de maturação.


Estamos a falar do fascismo, daí todos os cuidados serem poucos. Porquê? Porque é a forma mais violenta de organização do poder de Estado e da sociedade a que o grande capital e a burguesia podem recorrer para imporem os seus interesses. Porque quando historicamente surge não se anuncia como tal, antes recorre a vários disfarces e conta com a desatenção ou mesmo com uma cumplicidade passiva por parte de sectores do capital e da burguesia que não sendo propriamente fascistas, gostam de jogar também com essa carta escondida atrás das costas.

 

Nas próprias reacções dos defensores de cada uma das figuras históricas que a RTP tornara concorrentes, na noite do último episódio do concurso, uma das ideias atiradas para o ar, como explicação dos resultados, por participantes que, aliás, se posicionam diferentemente no leque político, mostra algo de preocupante: a ideia de que a «votação», que não era questionada, se devia a um protesto contra a situação actual, tida, vamos lá, como de incumprimento das promessas do 25 de Abril. Ora o que há de preocupante é o de que a esta «explicação» falta, pelo menos, dizer que, a ser assim, um protesto que se exprime como nostalgia de Salazar é no mínimo um «protesto» completamente equívoco ou enganado. E se para alguns, o «ter saudades de Salazar», porque há desemprego, porque muitos sofrem dificuldades económicas, porque se sentem e são objectivamente vítimas de uma violenta «exclusão social», significa falta de consciência social, para outros trata-se de má fé e de activa manipulação ideológica. Perante o protesto social de classe dos trabalhadores e das camadas e grupos sociais que, sendo expropriados dos seus direitos económicos e sociais, entram em luta por mudanças de políticas, interessa a certos sectores do grande capital e da grande burguesia dividir para atenuar o impacto desse protesto, canalizando algum dele para objectivos falsos e para posições políticas que são contrárias a quaisquer alterações de sentido progressista. Num passado muito recente, assistimos em situações pré-eleitorais a uma sobre-mediatização de Paulo Portas e do seu PP com a esperança de que ele pudesse retirar votos àqueles que à esquerda poderiam esperar traduzir eleitoralmente a sua incansável resistência e a sua real influência social e política.

 

Vejamos um primeiro aspecto do problema: o da natureza de classe real do fascismo e a sua capacidade de se trasvestir em termos de propaganda, de forma a manipular, atrair e mobilizar sectores sociais profundamente deprimidos e mistificados. Se o fascismo exprime os interesses dos sectores mais reaccionários dos latifundiários e do capital financeiro, ele historicamente sempre apareceu, em fases iniciais, a coberto de uma desenfreada demagogia populista como dando uma (falsa) voz, nacionalista, racista e xenófoba, ao desespero da pequena burguesia e de sectores populares, designadamente do lumpen-proletariado. Isto levou políticos democratas e social-democratas a cometer um erro ao definirem a natureza de classe do fascismo, um erro com consequências trágicas para a democracia, para os democratas e os trabalhadores, o erro de atribuírem à pequena burguesia e a sectores sociais marginais o que era manifestação dos interesses brutais do grande capital. Ora esta disposição histórica para o erro ainda hoje está activa e o erro a outra escala repete-se quando certos analistas dos resultados eleitorais «verificam» a existência de transferências de voto do eleitorado comunista em França para o candidato fascista Le Pen. «Verificada a tendência», ela é interpretada pela «semelhança existente» entre os discursos fascista e comunista. Com mais ou menos sofisticação argumentativa, maior ou menor grosseria da mistificação, o erro consiste de novo em ocultar perante os cidadãos mais desinformados, socialmente menos conscientes e politicamente menos experientes e esclarecidos, a natureza de classe dos interesses que o fascismo defende e, de um só golpe conseguirem também tentar passar a ideia de que os comunistas franceses são conservadores.

 

Isto leva-nos a um segundo aspecto do problema: como compreender a repetição do erro e a inexistência de um combate preventivo à propaganda fascista e fascizante, ou de uma mais activa pedagogia dos valores democráticos e antifascistas? Como compreender apesar de tudo que seja possível enganar tanta gente que até teve experiência do fascismo?

 

Vivemos actualmente sob uma ofensiva global do capitalismo e do imperialismo e da sua ideologia neoliberal, que se abate sobre as condições de vida dos trabalhadores e das populações, que retira direitos económicos, sociais e culturais, que conduz, com os enormes meios de que dispõe, uma campanha contra esses direitos que são apresentados como um obstáculo à modernização da economia e ao desenvolvimento social, quando são um obstáculo sim à desenfreada sobre-exploração do trabalho, mas não a um desenvolvimento económico e social sustentado. Os que desencadeiam ou conduzem essa ofensiva estão conscientes de que ela não pode deixar de suscitar, como efectivamente tem estado a acontecer, uma resistência e um protesto crescentes, uma reivindicação de mudança de sentido social das políticas. Para aqueles que conduzem as políticas, há que fazer tudo ou quase tudo para travar, dividir tal resistência e tal protesto; há que tentar não só dificultar a adesão ao protesto social, mas há que obscurecer os reais contornos da situação social, as responsabilidades políticas por essa situação e a percepção do sentido e das forças sociais e políticas capazes de garantirem uma alternativa. Para isso o anticomunismo é uma arma a que alguns lançam despudoradamente a mão. Esconder o mais possível a política alernativa, que os comunistas apresentam e dificultar a alternativa política, que só é possível com os comunistas, é um objectivo da política burguesa servido por várias manobras tácticas.

 

Uma delas consiste em fazer esquecer ou tornar normal ou natural o que foi o fascismo histórico concreto em Portugal. A sua forma mais «refinada» é pseudo-cientítica: tenta-se então argumentar que em Portugal nunca houve real ou rigorosamente fascismo, mas apenas um regime tradicionalista e autoritário. A justificação mostra o seu caracter insustentável do ponto de vista científico. Trata-se de distinguir cuidadosamente o fascismo português do fascismo em Itália e do nazi-fascismo na Alemanha, para concluir rapidamente que como o fascismo português teve algumas diferenças não foi fascismo, mas uma mera ditadura militar. Só que esta operação representa um esvaziamento do conteúdo conceptual da referida categoria. Se assim fizermos seria toda a conceptualização científica que se tornaria impossível no campo da história política, por exemplo, pois um conceito ou uma categoria para ser útil e funcional necessita de ter uma extensão ou um campo de aplicação com alguma generalidade. No limite teria havido fascismo em Itália, mas não na Alemanha, nem na Espanha de Franco, nem no Chile de Pinochet, nem... nem... Este falso rigor teórico que a ser aplicado levaria a interditar o uso da noção de regime democrático ou de democracia a mais do que um ou outro caso, de equivalência quase estrita, pode ainda aparecer justificado de uma outra maneira «virtuosa» porque supostamente «neutra», mas onde a natureza ideológica do argumento é como rabo escondido com o gato de fora: evitar a noção de fascismo seria evitar o uso da palavra «fascismo» que, no seu uso corrente, mais do que uma denotação científica ou técnica, tem um conotação pejorativa, com a qual o historiador não se deve comprometer para poder preservar «a neutralidade do cientista».

 

Outro procedimento passa pela tentativa de desarticular a memória das populações, de ostensivamente não aproveitar as potencialidades da comunicação audiovisual para mostrar, com seriedade histórica, o que foi o fascismo e o que foi a resistência. Porquê esse pesado silêncio, só aqui e ali quebrado por este documentário, aquele programa e aquela série de ficção? Porque é difícil insistir nesta temática e esconder por muito tempo o papel, inapagável do PCP, dos seus militantes e dirigentes, dos democratas, das populações, dos trabalhadores trazidos à luta, ao longo de anos e anos, e foram décadas, e foi quase meio século.

 

Em Itália, onde a democracia, foi conquistada no final da II Guerra Mundial, e onde o papel dos comunistas em tal conquista foi sendo reconhecido, a invencionice dos ideólogos burgueses teve que insuflar uma outra argumentação: a de que o atraso italiano se devia ao peso da tradição e das referências antifascistas que, se não governaram o país, geraram uma cultura política que bloqueou a iniciativa das forças capitalistas mais «modernas».

 

Na Europa, ao mesmo tempo que «os direitos democráticos sofrem rudes golpes», «cresce o anticomunismo, nalguns casos apoiado pelos governos de Estados europeus e, em outros, pelas próprias instituições da União Europeia. Vão-se generalizando as proibições e perseguições às forças políticas de esquerda e anticapitalistas e a movimentos populares. Alimenta-se o racismo e a xenofobia» (transcrito do apelo comum, subscrito por 32 partidos comunistas e progressistas de vários países da Europa, a propósito do 50.º aniversário do Tratado de Roma). No Conselho da Europa e no Parlamento Europeu há, por diversas formas e com graus diferentes de sucesso, tentativas de operar uma revisão violenta da história, incriminando o marxismo e o comunismo, enquanto acção e programa de acção e, mesmo, enquanto pensamento e ideologia.

 

Desta ofensiva ideológica faz parte fundamental a repugnante promoção da ideia de que fascismo e comunismo seriam equivalentes, num caso e noutro, projectos de sociedades totalitárias. Em Portugal esta «ideia» está relativamente «contida», mas uma das suas «ideias» associadas recebeu do programa de televisão, que referi no princípio, um empenhado apoio publicitário e propagandístico: a «ideia» pérfida e infame de que Salazar e Álvaro Cunhal são, mesmo se opostos, equivalentes ou, pelo menos, «comparáveis». A perfídia reside no modo como esta infâmia joga nas possibilidades da sua credibilização por certos hábitos de pensamento que a ideologia dominante tem vindo a instalar. Talvez o mais gravoso seja o hábito de reduzir a democracia a uma forma e a um jogo político. Há que saber se os contendores, os jogadores cumprem ou não as regras inquestionáveis do jogo, se são mais ou menos habilidosos e dominam ou não as suas técnicas e só em último lugar (se se chegar lá) é que se discutirão os conteúdos da acção, os conteúdos sociais das políticas. Reduzir toda a complexidade real do conflito político e social a um combate singular, um duelo entre políticos, vem ao encontro da lógica da política como espectáculo, em que tudo é comparável, depois de reduzido a ser uma simples mercadoria. Há que dizer-lhes: «Não passarão!»

 

Manuel Gusmão, 1 de Maio de 2007

publicado por António Vilarigues às 18:59
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Terça-feira, 15 de Maio de 2007

URAP - União de Resistentes Antifascistas Portugueses

Comunicado


1 . A Comissão Directiva da URAP torna público que foi entregue esta semana na Inspecção Geral da Administração do Território (IGAT) uma participação contra a Câmara Municipal de Santa Comba Dão.


2 . Dessa queixa consta uma análise exaustiva de todo o processo  relativa às decisões da Câmara sobre o inicialmente denominado "Museu Salazar", depois "Museu do Estado Novo", e, mais recentemente, eufemisticamente rebaptizado "Centro Documental Museu e Parque Temático do Estado Novo".


3. No entender da URAP, há indícios suficientes de que a Câmara Municipal de Santa Comba Dão pretende avançar com um projecto que não tem suporte nas  deliberações efectivamente tomadas no exercício dos orgãos autárquicos (ou até as contraria). Por outro lado o projecto do Museu Salazar constitui  uma operação financeira altamente desvantajosa para o município e por conseguinte, para os contribuintes portugueses, nomeadamente a pensão vitalícia de 2000 Euros mês paga ao sobrinho neto de Salazar, em troca da «doação» duns «tarecos» que pertenceram ao ditador fascista e pouco mais, e sem qualquer aprovação da Assembleia Municipal nesse sentido.


4. Como diz o nosso povo "o que nasce torto tarde ou nunca se endireita". Confirma-se que o projecto do "Museu Salazar" nasceu em confronto com a Constituição da República e a Lei, está eivado de ilegalidades no próprio processo de decisão  municipal e está cada vez mais confrontado com a constatação da respectiva ilegalidade.


5. E sobretudo o Museu Salazar está confrontado com a resistência crescente da opinião pública democrática ao objectivo inaceitável de edificar e concretizar  um "santuário" do criminoso regime fascista, deposto em 25 de Abril de 1974.

 


Pel’ O Conselho Directivo da URAP
Aurélio Santos
2007-05-08
publicado por António Vilarigues às 09:58
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Quarta-feira, 2 de Maio de 2007

Nota do Núcleo de Viseu-Santa Comba Dão da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP)

É indispensável a proibição da anunciada "Concentração em defesa do Museu Salazar", no Próximo dia 28 de Abril em Santa Comba Dão


Nota do Núcleo de Viseu-Santa Comba Dão da
União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP)


1. Dispõe o preâmbulo da Constituição da República que "A 25 de Abril o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista. Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa."

A mesma Constituição, no seu Artigo 46º, nº 4, afirma que "não são consentidas organizações que perfilhem a ideologia fascista".

2.  A lei 64/78 define-as como as que " (...) mostrem (...) pretender difundir ou difundir efectivamente os valores, os princípios, os expoentes, as instituições e os métodos característicos dos regimes fascistas (...), nomeadamente (...) o corporativismo ou a exaltação das personalidades mais representativas daqueles regimes (...)", proibindo-lhes o exercício de toda e qualquer actividade. A Lei é clara e inequívoca no seu espírito e na sua letra. Portugal é um Estado democrático de direito.

3. O núcleo de Viseu-Santa Comba Dão da URAP não pode deixar de repudiar vivamente a posição expressa pelo Presidente da Câmara de Santa Comba Dão a propósito da referida concentração.

 

Eximindo-se a tomar posição no sentido da proibição desta manifestação, promovida por um grupelho que assume a propaganda da ideologia fascista e se propõe fazer uma homenagem ao ditador Salazar e uma manifestação-romagem à sua campa, o engenheiro João Lourenço torna-se conivente na tentativa de mistificar um acto presumivelmente criminoso de desrespeito e afrontamento à Constituição (que jurou defender e respeitar) e a uma Lei da República, numa questão de bom ou mau comportamento na via pública.

4. A URAP de Viseu-Santa Comba Dão alerta, uma vez mais, o povo do Concelho - que já demonstrou maioritariamente as suas profundas convicções democráticas - que o projecto do Engº João Lourenço e da sua maioria na Câmara de construir a «Casa-Museu Salazar», não só é inconstitucional e ilegal e está condenado ao fracasso, como está já a transformar esta cidade em destino de todas as excursões e iniciativas de propaganda nazi-fascista, dos cabeças rapadas e outros bandos criminosos, envolvidos no apelo ao ódio e na violência racista.

 

É Tempo de arrepiar caminho. Santa Comba Dão merece melhor.

É possível e desejável outro caminho para o desenvolvimento desta terra.
 
5. O núcleo de Viseu-Santa Comba Dão da URAP exige das autoridades que não se demitam das suas funções.

Exigimos a imediata proibição desta concentração que é manifestamente ilegal. E reclamamos a tomada de todas as medidas conducentes ao respeito pleno da legalidade democrática.

 

Santa Comba Dão, 23 de Abril de 2007

O Núcleo de Viseu Santa Comba Dão da
União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP)

publicado por António Vilarigues às 12:07
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Sábado, 21 de Abril de 2007

MUSEU SALAZAR: AS FALÁCIAS

Dizem os livros que falácia consiste em partir de uma afirmação falsa, intencionalmente, e, a partir dela, pretender retirar conclusões verdadeiras.

Museu
A primeira falácia de alguns analistas e comentadores tem a ver com a intenção atribuída à URAP (União de Resistentes Antifascistas Portugueses) de ser contra qualquer Museu sobre Salazar. Basta ler o que consta das posições publicamente assumidas (
www.contraofascismo.net; http://salazarices.blogs.sapo.pt) para se percepcionar que nada de mais falso.

Pessoas que viveram na própria pele, ou na dos seus familiares e amigos, a repressão, a clandestinidade, o exílio, as prisões, as torturas. Pessoas que coabitaram com o dia a dia do fascismo em todas as suas vertentes são (e têm-no sido) as primeiras interessadas numa análise histórica e científica desses 48 anos. Afirmar o contrário só por ignorância, má fé ou desonestidade intelectual.

Santuário
Argumentam os promotores e defensores do Museu Salazar que não se trata de construir um «santuário» ou uma casa evocativa para honrar e homenagear Salazar. Sustentam que o que pretendem é um verdadeiro «centro de estudos» desse período da história de Portugal. Um museu «neutro», com  «enquadramento» e «caução científica». Que garanta uma abordagem de Salazar não apologética mas crítica. Mostrando o que ele «fez de bom» e também «o que fez de mau».
O povo costuma dizer que «a melhor prova do pudim é comê-lo». A prova de que a realidade se sobrepõe a bonitas «declarações de intenção» sobre aquilo que o Museu poderia ou deveria vir a ser, é aquilo em que ele já se tornou. A prática comprovou que o simples expressar público de uma opinião contrária ao referido projecto bastou para despertar os saudosistas e os defensores de uma ideologia condenada pela história: o fascismo.

A prova de que se trata dum projecto que os fascistas sabem que lhes pertence, objectivamente, foi a mobilização dos neofascistas da «Frente Nacional» para Santa Comba Dão. Para, instrumentalizando sentimentos obscurantistas, dar corpo a uma tentativa de boicote duma normalíssima «Sessão Pública». Com tentativas de agressão, saudações hitlerianas, vivas a Salazar e à ditadura fascista, gritos de «fora os comunistas» e «vão para a Rússia» que aconteceram na arruaça. Sem que Autarcas e responsáveis do PSD tirassem o sorriso dos lábios enquanto se passeavam na contra manifestação. Sem nada fazerem para contrariar insultos e ameaças, ou evitar as tentativas de agressão.

Cientificidade
Em nenhum momento a Câmara de Santa Comba Dão assumiu que o que quer construir possa ser um espaço museológico, ou um «centro de estudos», sobre o que de facto seria «objectivo» e «científico». Isto é, sobre o regime fascista, de ditadura, opressão e colonialismo. Bem como sobre os sentimentos profundos e a longa resistência do povo português à ditadura criminosa de que Salazar foi o principal responsável e o principal criminoso.

E não o fez, por um lado porque obviamente não se revê nos princípios constitucionais (e cientificamente aceitáveis) a este respeito. Por outro, porque toda a conjuntura e o quadro de valores em que assenta o projecto, excluem radicalmente essa possibilidade.

A conjuntura é a da família, dos objectos pessoais, da casa, das terras, da rua, da aldeia, da paisagem, da árvore, do banco, do carro, da Escola, do cemitério e da campa de Salazar. Os valores são o de «filho ilustre da terra», «o que fez de bom», «o que as pessoas querem ver». Estes são naturalmente valores de identificação claramente positiva e apologética, que excluem drasticamente qualquer abordagem objectiva do regime fascista de Salazar, naquela situação. Acresce que, para quem não sabe, a Lei 64/78 está em vigor.

Naquele espaço, conjuntura e quadro de valores sobreleva um peso «genético» brutal do salazarismo e/ou apologético de Salazar, que exclui que qualquer intervenção, mesmo que exterior à Câmara, possa tornar o museu num instituto científico e objectivo.

Internacional
Esclareça-se que o quadro internacional a este respeito não é favorável à abertura de santuários fascistas. Ao contrário do que têm procurado fazer crer os apoiantes do museu e apesar do ressurgimento da extrema-direita na Europa. Em Espanha discute-se o encerramento do Vale dos Caídos, que foi construído pelos prisioneiros Republicanos durante o Franquismo, e têm sido apeadas estátuas e símbolos do fascismo. Na Alemanha a tentativa de reconstruir a casa de campo de Hitler na Baviera foi liminarmente recusada para não se tornar um santuário nazi.

O tacho
Do ponto de vista de Santa Comba Dão, ao contrário do que também dizem os apoiantes do museu, este projecto não teria qualquer impacto sensível no desenvolvimento do concelho. Talvez dois ou três postos de trabalho directos e é tudo. Quanto ao resto, o que é real é que obriga o orçamento municipal, por decisão da Câmara (
http://salazarices.blogs.sapo.pt), a pagar ao sobrinho de Salazar uma renda vitalícia, actualizável, de dois mil euros mensais. Mais de trezentos e cinquenta mil euros em dez anos. Nada mau para uma «doação» de um pincel da barba, uns selos, embalagens de restaurador Olex e mais uns quantos objectos pessoais do ditador. Rico tacho! Santa Comba Dão merece seguramente melhor!

Artigo publicado na edição de 2007/03/19 do jornal "Público" 


publicado por António Vilarigues às 11:31
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Segunda-feira, 5 de Março de 2007

Museu Salazar: A realidade do fascismo

A memória dos povos não é um peso morto das recordações do passado, nem uma crónica desapaixonada dos acontecimentos. A razão de ser da memória histórica está na extracção das lições do passado. Está na aspiração de tornar impossível o desabar de catástrofes sobre a humanidade durante muitos séculos.

O célebre filósofo americano George Santayana (1863-1952) escreveu “Um povo que não recorda o seu passado está condenado a vivê-lo de novo”.

Vem isto a propósito das reacções de João Lourenço à anunciada “Sessão Pública de Afirmação dos Ideais Antifascistas”, a realizar no próximo dia 3 de Março, pelas 15H00, no Auditório Municipal de Santa Comba Dão.

Afirma o edil de Santa Comba Dão que “o fascismo em Portugal já morreu há muito e está bem enterrado e ninguém tem vontade de o desenterrar”. Ou “O fascismo está morto e Salazar enterrado sob sete palmos de terra. Deixá-lo estar assim para sempre”.

Gostaríamos, sinceramente, de partilhar estas opiniões. Só que a realidade é bem diferente. Basta ler os comentários às últimas notícias relacionadas com o Museu Salazar nas edições on-line dos jornais. Ou as manobras rasteiras, já denunciadas pela própria RTP, visando a eleição de Salazar como o “Grande Português”. E convém não esquecer que os movimentos neo-nazis em Portugal já assassinaram por mais de uma vez depois do 25 de Abril.

 Como explica o Presidente da autarquia a influência de partidos e movimentos neo-fascistas e neo-nazis em países como França, Alemanha, Itália e Áustria? Onde detêm, inclusive, significativa representação parlamentar.

O fascismo é, antes de mais, um acontecimento social e político relacionado com a crise profunda das sociedades em que vivemos. Os vícios do fascismo e dos seus dirigentes são os vícios destas sociedades. Doutro modo eles não poderiam alcançar tão vasta importância social.

Ideologia, propaganda, base social de apoio, financiamento do partido, política de alianças, conquista do poder. Seis vértices duma tenebrosa realidade – o poder nazi ou fascista.

Foi precisamente a atmosfera político-social da Europa Ocidental dos anos vinte e trinta, que tornou possível a conquista do poder pelos fascistas em vários países, nomeadamente em Itália, em Portugal, em Espanha, na Alemanha.

Esta realidade mostra à saciedade que os ideais fascistas estão longe de estar mortos e enterrados.

Todo o acervo documental de Salazar está na Torre do Tombo. Para estudo e consulta. E não consta que possa sair de lá para o Vimieiro. O que resta então? Meia dúzia de objectos pessoais.

Queira ou não queira João Lourenço este projecto, objectivamente, visa o revivalismo, o excursionismo e a propaganda do fascismo. E não é com um quartinho “dedicado à luta antifascista, por parte de pessoas que foram presas e torturadas pelo regime”, que se resolve a questão.

Não fosse João Lourenço um democrata e tomaria esta proposta como altamente provocatória. O meu pai, Sérgio Vilarigues, passou durante mais de 6 anos pelos cárceres do Aljube, Peniche, Fortaleza de Angra do Heroísmo e Campo do Tarrafal. A minha mãe, Maria Alda Nogueira, esteve presa 9 anos e dois meses em Caxias. A mãe das minhas filhas, Lígia Calapez, 3 anos.

Salazar sabia. Mais. Salazar despachava todas as semanas com o director da polícia política, a PIDE. O tema não era certamente os amores e desamores (agora tão na moda…) do ditador. Nessas reuniões discutiam-se perseguições, prisões, torturas, condenações, assassinatos.

Mais uma vez reafirmo o que aqui escrevi. O nosso país carece sim de verdadeiros Museus da Resistência e do Fascismo. Lugares indispensáveis para estudar, em todas as suas vertentes, a realidade daquele período da história de Portugal. E para mostrar, sobretudo às gerações mais jovens, o porquê de “fascismo nunca mais”.

Artigo publicado na edição de 2007/02/23 do "JORNAL DO CENTRO"

publicado por António Vilarigues às 10:59
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Segunda-feira, 19 de Fevereiro de 2007

Museu Salazar: Certezas, dúvidas e perguntas

O texto presente em seguida viu a sua publicação no Jornal Desefesa da Beira negada pelo seu director .

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Gostaria de partilhar convosco, caros leitores, algumas reflexões breves sobre o tema que dá o título a este artigo.

 

Desde há algum tempo, duma forma progressiva, que tem vindo a ser difundido um projecto de criação de um denominado “Museu Salazar”. A ser instalado em Santa Comba Dão. Alguém, muito provavelmente os seus promotores, tem encontrado eco na comunicação social nacional. Mas também na regional. Face às reacções da opinião pública o planeado museu foi, significativamente, rebaptizado de «Museu do Estado Novo».

 

Este projecto é, desde logo, caracterizado como uma “mais valia” e uma “âncora” para o desenvolvimento do concelho. Será?

 

Este projectado “Museu” é, depois, apresentado como algo que seria “devido” pelos seus concidadãos ou pelo município de origem ao ditador. Mas não é notório e indesmentível que Salazar foi tão responsável pela opressão, miséria e atraso de Santa Comba Dão como o foi do resto do País?

 

Esta iniciativa é, ainda, anunciada como académica. Mas não será que, queiram ou não os seus promotores, defensores e apoiantes, este projecto, objectivamente, visa o revivalismo, o excursionismo e a propaganda do fascismo? Seria como se na Alemanha surgisse um Museu de Hitler.

 

Este “Museu” é, finalmente, apontado quase como a salvação para o atraso do concelho. Não há outras prioridades?

 

E já agora algumas questões mais práticas.

 

O executivo camarário de Santa Comba Dão alega a todo o momento dificuldades financeiras. Vem agora falar num investimento que diz ser de mais de 5 milhões de euros. De onde vem o dinheiro?

 

Qual o espólio deste futuro “Museu”? A cama? O pincel da barba? Meia dúzia de manuscritos? Que se saiba todo o acervo documental de Salazar está na Torre do Tombo. Disponível, como é óbvio, para consulta e estudo de quem o quiser fazer.

 

E com que cobertura legal e a que título vai receber Rui Salazar de Lucena e Mello um lugar remunerado, vitalício, numa futura sociedade, no montante anual de 24 mil euros? Ou seja, dois mil euros por mês. Quantas pessoas em Santa Comba Dão auferem deste vencimento? E como vai ser com os outros herdeiros, que representam os dois terços restantes?

 

Para terminar só uma breve nota de memória histórica.

 

Convém não esquecer que Salazar, durante anos a fio, despachava semanalmente com o director da polícia política, a PIDE. Nenhum ministro se podia gabar de ser recebido com tal periodicidade!

 

Nessas reuniões discutiam-se as perseguições, as prisões, as torturas, as condenações, os assassinatos daqueles que ousavam defender os direitos do povo, protestar, lutar pela liberdade e por melhores condições de vida e de trabalho.

 

Santa Comba Dão merece mais, muito mais, do que ficar no mapa “turístico” de saudosistas duma ideologia repudiada e condenada pela história.

publicado por Alberto Andrade às 15:08
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Quarta-feira, 17 de Janeiro de 2007

Conversas da treta e algumas notas soltas: Museu Salazar

Assiste-se no nosso país a uma permanente e bem elaborada campanha, com vastos meios e sob diversas formas, de branqueamento do regime de Salazar e Caetano. Pretende-se, despudoradamente, reescrever a história de Portugal no século XX. Se possível apagar da memória a gesta da resistência anti-fascista. As expressões concretas deste objectivo são múltiplas e variadas.

Desde há algum tempo, duma forma progressiva, que tem vindo a ser difundido um projecto de criação de um denominado “Museu Salazar”. A ser instalado em Santa Comba Dão. Alguém, muito provavelmente os seus promotores, tem encontrado eco na comunicação social nacional. Mas também na regional. Face às reacções da opinião pública o planeado museu foi, significativamente, rebaptizado de «Museu do Estado Novo».

Quem são os patrocinadores? À cabeça surge a respectiva Câmara Municipal de maioria PSD. A qual, sublinhe-se, desde logo disponibilizou apoio político e meios logístico e financeiros. Depois, alguns familiares do ditador (nada alheios aos negócios envolventes…). Finalmente, outros interesses saudosos ou afectos ao regime fascista.

É uma completa mistificação apresentar este projectado “Museu” como algo que seria “devido” pelos seus concidadãos ou pelo município de origem ao ditador. É notório e indesmentível que Salazar foi tão responsável pela opressão, miséria e atraso de Santa Comba Dão como o foi do resto do País.

E só por manipulação se pode apresentar esta iniciativa como académica. Queiram ou não os seus promotores, defensores e apoiantes, este projecto, objectivamente, visa o revivalismo, o excursionismo e a propaganda do fascismo. Seria como se na Alemanha surgisse um Museu de Hitler ou na Itália o Museu Mussolini.

Acresce que, em si mesmo, constituiria um atentado aos ideais democráticos do povo português e dos democratas. E um claríssimo conflito com a Constituição e a Lei.

Convém não esquecer que Salazar, durante anos a fio, despachava semanalmente com o director da polícia política, a PIDE. Nenhum ministro se podia gabar de ser recebido com tal periodicidade!

Nessas reuniões discutiam-se as perseguições, as prisões, as torturas, as condenações, os assassinatos daqueles que ousavam defender os direitos do povo, protestar, lutar pela liberdade e por melhores condições de vida e de trabalho.

O executivo camarário de Santa Comba Dão alega a todo o momento dificuldades financeiras. Elas são a desculpa constante justificativa da sua inacção na resolução dos reais problemas do concelho. Vem agora falar num investimento que diz ser de mais de 5 milhões de euros. De onde vem o dinheiro? Este “Museu” é apresentado quase como a salvação para o atraso do concelho. Não há outras prioridades?

 

O nosso país carece sim de verdadeiros Museus da Resistência e do Fascismo. Lugares indispensáveis para estudar, em todas as suas vertentes, a realidade daquele período da história de Portugal. E para mostrar, sobretudo às gerações mais jovens, o porquê de “fascismo nunca mais”.


António Vilarigues
anm_vilarigues@hotmail.com
Sistemas de Comunicação e Informação

 

Publicado na edição do "JORNAL DO CENTRO" de 8 de Dezembro de 2006

publicado por António Vilarigues às 23:44
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